domingo, 28 de março de 2010

QUEM VÊ CARA, VÊ CORAÇÃO

Quem vê caras, vê corações!

Alguma vez pensou no que os traços da cara dizem de si? Olhos grandes, nariz pequeno, orelhas redondas, lábios carnudos, testa pequena, tudo é mostra de uma personalidade activa e exuberante ou pelo contrário, de um espírito mais calmo, tímido e reservado. Saiba mais com o Rosa10.
Através do estudo dos traços do rosto é possivel fazer uma análise detalhada e chegar-se a um conjunto de resultados através dos quais se pode traçar um perfil psicológico do ser humano. Não acredita? O nome é “psicofisiognomia”, estudo da fisionomia dos traços.

Desde tempos antigos que a arte existe. No antigo Egipto por exemplo, era uma técnica utilizada pelos egípcios para escolher os imperadores a partir do perfil.
E porque formas e tamanhos importam, torna-se imperativo analisar o formato do rosto, o comprimento do nariz, o tamanho dos lábios e das orelhas, que traduzem características, reflexo psicológico, a personalidade e outros factores que permitem um auto-conhecimento.

Já sabe, o segredo da alma está na cara. A partir de agora adopte o lema “Diga-me o que vê, fique a saber quem sou!”.


A TESTA
Testa muito lisa: Indicativo de pessoa que não faz uso da capacidade intelectual

Testa larga e ampla:
Inteligência e perspicácia são as características de quem tem a testa larga e ampla

Testa com uma ruga horizontal no meio: Pessoa idealista e sonhadora

Testa com ruga sobre a sobrancelha: A pessoa com este tipo de testa é extremamente materialista

Testa com uma ruga vertical no meio: Significa pessoas explosivas, de “rédea curta”

Testa com muitas rugas verticais e horizontais: São pessoas tensas e com propensão a desequilíbrios emocionais.



NARIZ

Nariz afilado: A dona de um nariz de ponta muito fina revela um temperamento curioso e penetrante. Se todo o nariz for fino, a pessoa tende a ser negativa e irónica. Quando o nariz é largo com a ponta fina caracteriza pessoas sagazes e ambiciosas.
Nariz "batatinha": Típico de pessoas simples, maleáveis que se contentam com pouco.

Nariz recto (de perfil): Típico de pessoas de carácter e sensatas que abrem mão da vontade própria em beneficio dos outros. São carentes e vivem de amores platónicos.

Nariz arrebitado: São pessoas alegres, optimistas, de temperamento forte, que vivem intensamente. Entregam-se sem reservas ao amor e exigem em troca nada menos daquilo que dão.
Nariz assimétrico: Reflecte pessoas de conflitos emocionais, complexas, com sensibilidade apurada, inconformistas e anti-sociais.

Nariz aquilino: Caracteriza pessoas com poder de liderança.

Nariz largo: Característica inerente a pessoas alegres mas violentas.

LÁBIOS

Lábios grossos: Fazem a delícia do mimaginário masculino e caracteriza pessoas que precisam de prazeres sexuais de forma intensa

Lábios finos: Característica de pessoas frias insensíveis

Lábio inferior para a frente: Caracteriza pessoas que possuem a arte de falar muito

Lábio superior para a frente: Pessoa reservada, introvertida



ORELHAS


Orelhas carnudas: Denunciam sensualidade.

Orelhas finas delicadas: Demosntram uma pessoa que age de acordo com a sensibilidade. Característica de um caracter delicado.

Orelhas com contornos arredondados: Denuncia uma apreciadora de boa música.
QUEIXO

Queixo largo: Pessoas ambiciosas e voluntárias

Queixo estreito: Pessoas delicadas, sensíveis com talentos artísticos

Queixo redondo: Pessoas de iniciativa, generosidade, insatisfações ocultas e desejos de prazeres materiais

Queixo longo e pontudo: Pessoas com espírito de liderança, autoritárias e ambiciosas

Queixo pontudo mas não pronunciado: Pessoas ambiciosas, mas pessimistas

Queixo pequeno mas bem feito: Pessoas harmoniosas, de bom senso que se adapta facilmente a modificações

Queixo para dentro: Pessoas indecisas, volúveis, mas simpáticas

Queixo com furinho: Pessoas com força de vontade, porém inseguras

Queixo muito pequeno: Pessoas sonhadoras, com grande imaginação

Queixo duplo: Pessoas com problemas de saúde, preguiçosa, apática que renuncia suas responsabilidades

MAXILARES FORTES, QUADRADOS

Dona de uma personalidade ter forte. Destacam-se outras caracatericticas como a persistência, resistência física e consistência nas acções.



OLHOS
Olhos grandes: Pertencem a pessoas activas, de imaginação fértil e espírito observador. Quem tem olhos grandes costuma ser muito eficiente no trabalho e, por isso, inspira confiança aos superiores. Quando muito grandes, os olhos revelam uma vida interior rica e intensa mas também indicam uma certa dificuldade para expressar idéias.

Olhos pequenos: A pessoa que tem olhos pequenos não é do tipo que se conforma em ficar parada. Inteligente e dinâmica, geralmente interessa-se por várias coisas ao mesmo tempo e costuma ser inconstante, inclusive no amor. Se forem muito pequenos, os olhos indicam um certo egoísmo e ambição exagerada.

Olhos salientes: Olhos salientes pertencem a pessoas originais, extrovertidas e que adoram comunicar. Revelam um caracter exibicionista e uma tendência a mudar de humor com facilidade. Por este motivo, devem tomar cuidado para não incomodar os outros com as suas crises de irritação e acessos de vaidade.

Olhos profundos: O espírito crítico e a capacidade de perceber os vários ângulos de cada situação são a marca principal das pessoas com olhos profundos. Com elevado senso de justiça e grande riqueza interior, precisam, recorrer ao isolamento para analisar os próprios sentimentos e buscar equilíbrio psicológico.

Olhos amendoados: Formato de olhos muito comum A pessoas ligadas a actividades artísticas, que possuem um senso estético apurado e revelam forte sensualidade, além de uma notável capacidade para manter o controle nas mais diversas situações. Em alguns casos, podem indicar também um caracter frio e calculista.
A cor dos olhos revela sentimentos existentes:
- Negros: Caracteriza pessoas de seriedade harmoniosa e que amam a vida. Possui uma personalidade forte e dominadora

- Azuis: Caracteriza pessoas delicadas, sensuais, intuitivas e dinâmicas

- Verdes: Caracteriza pessoas amorosas, possessivas, ciumentas e persistentes

- Cinzentos: Caracteriza pessoas inteligentes, raciocínio rápido e grandes conhecimentos

- Castanhos: Caracteriza pessoas racionais, sensíveis, sérias e justas

- Avelã: Caracteriza pessoas de temperamento equilibrado, organizadas, seguras e racionais

SOBRANCELHAS

Sobrancelhas básicas: Revelam um temperamento cordial, activo e prático. As pessoas que as possuem têm grande capacidade de se organizar e de realizar projectos

Sobrancelhas espessas: Pertencem a pessoas obstinadas, corajosas, polémicas e combativas, características que as levam a conseguir tudo o que ambicionam

Sobrancelhas ralas: Exprimem indecisão, desânimo, fraqueza de espírito. São típicas de pessoas sensíveis cuja insegurança pode torná-las completamente resignadas

Sobrancelhas longas e espessas: qualidades como vitalidade, ânimo e constância fazem com que as pessoas que possuem este tipo de sobrancelhas se empenhem totalmente nas suas tarefas. Por outro lado, a impusilvidade pode induzi-las a cometer excessos

Sobrancelhas unidas: Revelam falta de coragem e pessimismo e tendência a fechar-se num mundo particular. Apego e ciúmes (possessividade)

Sobrancelhas curtas: São indício de um carácter turbulento e caprichoso e de humor instável. O espírito crítico impede essa pessoas de conquistar amizades. No trabalho, o ponto forte é a extrema organização
Sobrancelhas em forma de acento circunflexo: Revelam um temperamento imprevisível e original. Denotam dinamismo, coragem e combatividade.

Sobrancelhas despenteadas: Indicam segurança, generosidade e bons sentimentos, embora, muitas vezes, mascarados por rudeza e falta de sociabilidade

Sobrancelhas distanciadas: Pertencem a indivíduos serenos e, ao mesmo tempo, vigorosos. São pessoas altruístas com incrível capacidade de ouvir e ajudar os outros.

Sobrancelhas cheias nas extremidades: Também chamadas de "mefistofélicas". Mas ao contrário do que pode parecer, a pessoa que as possui é alegre, brincalhona e ao mesmo tempo tímida e algo preconceituosa.

Sobrancelhas caídas: São indício de equilíbrio e capacidade de observação que quando exagerados, tornam os indivíduos intransigentes e egocêntricos.

Sobrancelhas grossas: Quem as tem goza de boa saúde física e um caracter forte e impulsivo. Indica também vitalidade (possível agressividade).

Sobrancelhas delgadas e ralas: Têm-nas pessoas com pouca vitalidade, sem capacidade de forte acção. Sensibilidade (é uma das características que mais dá nas vistas.
Texto:Redacção Rosa10
Fotos:DR

sexta-feira, 12 de março de 2010

CONVERSA COM EDUCADORES

O estudo da gramática não faz poetas. O estudo da harmonia não faz compositores. O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas. O estudo das "ciências da educação" não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer. Para isso eu falo e escrevo: para que eles tenham coragem de nascer. Quero educar os educadores. E isso me dá grande prazer porque não existe coisa mais importante que educar. Pela educação o indivíduo se torna mais apto para viver: aprende a pensar e a resolver os problemas práticos da vida. Pela educação ele se torna mais sensível e mais rico interiormente, o que faz dele uma pessoa mais bonita, mais feliz e mais capaz de conviver com os outros. A maioria dos problemas da sociedade se resolveria se os indivíduos tivessem aprendido a pensar. Por não saber pensar tomamos as decisões políticas que não deveríamos tomar.

RUBEM ALVES

www.rubemalves.com.br

Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?

O nome não me era estranho. Eu já o vira de relance em algum jornal ou revista. Mas não me interessei. Aquele nome, para mim, não passava de um bolso vazio. Eu não tinha a menor idéia do que havia dentro dele. Sou seletivo em minhas leituras. Leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas eu me comporto da mesma forma como me comporto diante de uma mesa de bufê: provo, rejeito muito, escolho poucas coisas. Concordo com Zaratustra: “Mastigar e digerir tudo - essa é uma maneira suína.“

Aquele bolso devia estar cheio de coisas dignas de serem comidas – caso contrário não teria sido oferecido como banquete nas páginas amarelas da VEJA. Mas eu não comi. Aí um amigo me enviou via e-mail cópia de uma crônica do Arnaldo Jabor, a propósito do dito nome – crônica que eu li e gostei: sou amante de pimentas e jilós.

Senti-me parecido com o Mr. Gardner, do filme “Muito além do jardim“, com Peter Sellers. Mr. Gardner jamais lia jornais e revistas. Aproximei-me então da minha assessora e lhe perguntei, envergonhado, temeroso de que ela tivesse visto o dito filme, e me identificasse com o Mr. Gardner. “Natália, quem é Adriane Galisteu?“ Esse era o nome do bolso vazio. Ela deu uma risadinha e me explicou. À medida em que ela explicava, as coisas que eu havia lido começaram a fazer sentido, e eu me lembrei de uma estória que minha mãe me contava: uma princesinha linda que, quando falava, de sua boca saltavam rãs, sapos, minhocas, cobras e lagartos... Terminada a explicação, fiquei feliz por não ter lido. Lembrei-me de uma advertência de Schopenhauer: “No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos... Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.“ Existirá possibilidade de que a leitura dos jornais nos torne estúpidos?

O que está em jogo não é a dita senhora, que pode pensar o que lhe for possível pensar. O que está em jogo é o papel da imprensa. Qual a filosofia que a move ao selecionar comida como essa para ser servida ao povo?

A resposta é a tradicional: “A missão da imprensa é informar“. Pensa-se que, ao informar, a imprensa educa. Falso. Há milhares de coisas acontecendo e seria impossível informar tudo. É preciso escolher. As escolhas que a imprensa faz revelam o que ela pensa do gosto gastronômico dos seus leitores.

Jornais são refeições, bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso. Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach estava certo ao afirmar que “somos o que comemos“, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo os jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer eles serão iguais àquilo que leram.

Faz tempo que parei de ler jornais. Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando meus olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos jornais. Muita coisa importante e deliciosa acontece sem virar notícia, por não combinar com o gosto gastronômico dos leitores. Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações. Parei de ler os jornais, não por não gostar de ler mas precisamente porque gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos: leio bovinamente, vagarosamente, como quem pasta... ruminando. O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer. Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, freqüentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor se livra do trabalho de pensar.

Confesso que não sei o que fazer com a maioria das notícias dos jornais: entendo as palavras mas não entendo a notícia. Penso: se eu não entendo a notícia que leio, o que acontecerá com o “povão“? Outras notícias só fazem explicitar o que já se sabe. Detalhes, cada vez mais minuciosos, das tramóias políticas e econômicas de um Maluf, de um Jader, nada acrescentam ao já sabido. Esse gosto pela minúcia escabrosa se deriva da pornografia, que encontra seus prazeres na contemplação dos detalhes sórdidos, que são sempre os mesmos, como o comprovam as salas de “imagens eróticas“ da Internet. A dita reportagem sobre a tal senhora e as notícias sobre Jader e Maluf atendem às mesmas preferências gastronômicas. Será que as notícias são selecionadas para dar prazer aos gostos suinos da alma? Por outro lado, há os suplementos culturais que, para serem entendidos, é preciso ter doutoramento. Para o povão, o futebol...

Ao final de sua crônica o Arnaldo Jabor dá um grito: “Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade...“ Dizendo do meu jeito: os órgãos de imprensa têm de contribuir para a educação do povo. Mas educar não é informar. Educar é ensinar a pensar. Os jornais ensinam a pensar? Repito a pergunta: Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?

(Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001.)

RUBEM ALVES

A solidão amiga


A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, “parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis“. A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: “Como se comporta a Sua Solidão?“ Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“ Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

“Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos
poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar.“

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, “certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa – garrafa, prato, facão – era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia.“

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita.“ É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

“...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília...“

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.

RUBEM ALVES
(Correio Popular, 30/06/2002)

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