sábado, 13 de junho de 2009




“A vida se retrata no tempoformando um vitral,de desenho sempre incompleto,de cores variadas,brilhantes, quando passa o sol.Pedradas ao acasoacontece de partir pedaçosficando buracos,irreversíveis.Os cacos se perdempor aí.Às vezes eu encontrocacos de vidaque foram meus,que foram vivos.Examino-os atentamente tentando lembrarde que resto faziam parte.Já achei caco pequeno e amarelinhoque ressuscitoude mentira, um velho amigo.Achei outro pontudo e azul, que trouxe em nuvensum beijo antigo.Houve um caco vermelhoque muito me fez chorar,sem que eu lembrassede onde me pertencera.“
(Ceriguela, p.14)
INDICAÇÃO DE LIVRO: TRANSPARÊNCIAS DA ETERNIDADE- RUBEM ALVES- entre outros que são perfeitos.

POEMA

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo. Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos. Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso. Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.Já tive crises de riso quando não podia.Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE! Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!

CLARICE LISPECTOR

Quintana


Expressão que traduz-se em serenidade- Alguem que teve ousadia de transformar as palavras em grandes belezas em que o tempo não poderá apagar!!!!
MÁRIO QUINTANA... meu poeta favorito

URUBUS E SABIÁS

Do livro Estórias de quem gosta de ensinar. O fim dos Vestibulares
Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos
falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem
grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza
eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram
escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram
imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles
seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos
outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes
pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira,
era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de
Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da
hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos
de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam
serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor
encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários
para um inquérito.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres
aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais
coisas houvesse. Não haviam passado por escolas de canto, porque o
canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar
que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...
— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um
desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos
que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.
RUBEM ALVES

SEPARAÇÃO DE SÍLABAS

"Quando a professora perguntava
como era a minha família
eu dizia que era um tritongo
havia cigarra
dançávamos jango
mas a mãe se foi
a cigarra morreu
a dança acabou
a tristeza invadiu
meu pai e a mim
e viramos ditongo
mas veio a madrasta
que teve três filhos
me jogou num hiato
e fiquei feito um i em ICARA-í "


AUTOR DESCONHECIDO

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